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NO TEMPO DAS CARAS SÉRIAS

Havia um tempo, não muito distante deste em que vivemos, que era o tempo das caras sérias, dos ouvidos moucos, das bocas caladas, em que as próprias ideias não podiam voar para fora das gaiolas que haviam dentro das cabeças.
Era um tempo em que se tinha de pensar muito bem o que se dizia, e em que não se podia dizer muito bem o que se pensava. Era um tempo ruim, o das caras sérias, por isso, os que não andavam tristes, andavam zangados.
Havia porém outros homens, como o Zeca Afonso, que, ao cantar melodias vivas e coloridas, distribuía alegria e esperança aos corações dos que o ouviam. 
A sua música, sem querer, por ser simples e viva e tocada com amor, ia contra a regra das caras sérias, dos ouvidos moucos, das bocas mudas. Com ela, as caras ficavam alegres, rosadas pelas danças, os ouvidos enchiam-se das suas notas, atentos, e as bocas trauteavam a sua melodia e arriscavam rimas espertas, que, não querendo dizer nada, diziam tudo.

Inspirado no texto de Ana Brito (AJA)
José Nobre (TOMA)
Micaela Castanheira (TOMA)
Cláudia Lourenço (ECOS)

TOMA — Teatro Oficina Multi Artes
AJA — Associação José Afonso de Setúbal 
ECOS — Sons de Sentir

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